Não diria nada, embora na noite, às vezes, quando vinha, revelasse certas palavras fragmentadas, incompletas, no código baço dos que se foram, que se perdiam para sempre no mundo dos sonhos esquecidos, enquanto ele tentava inutilmente recompô-las na manhã seguinte. Mas não, não diria nada. Não se diz mais uma palavra quando, de muitas formas nunca claras o suficiente para que os outros entendam, tudo já foi dito.
Hoje cedinho tive uma sensação estranha, lembrei de tudo que aconteceu uns meses atrás e era como se tivesse sido ontem. Logo eu, que não gosto de pensar no passado, me peguei ali, revivendo os fatos exatamente como eles tinham acontecido, e vi que o tempo é mesmo um curador de tudo, pois é... eu até lembrei de tudo com um ar de graça. Mas há um tempo atrás eu acharia impossível rir de tal situação, e hoje eu até me senti envolvida pela saudade. Sempre quis corrigir tudo que fiz de errado, mas acho que se pudesse voltar atrás teria feito tudo do mesmo jeito, reviver, nos mostra os acontecimentos de uma maneira mais sutil e talvez tenha sido bom pra mim lembrar daquele dia como um dia feliz!
Hoje – tantos anos depois, neurônios arrebentados de álcool, drogas, insônia, rejeições, e a memória trapaceia, mesmo com a atenção voltada inteira para o centro seco daquilo que era denso e foi-se dispersando aos poucos, como se perdem o tempo e as emoções, poeira varrida, por mais esforços que faça, plena madrugada, sede familiar, telefone – mudo – não consegue lembrar de quase mais nada além disto tudo que tentou ser dito sobre Beatriz ou ele mesmo ou aquilo que agora chama, com carinho e amargura, de: Aquele Tempo. Tempo, faz tanto tempo, repetem – esquece. Continuam a dizer coisas que ele não entende.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Postado por KaaH Morena às 09:20
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